O nome dele era Zeus. Ele chegou num momento da minha vida
em que tudo estava confuso e dolorido. Era o início do caos. Eu, naquele
momento não imaginava o que estava por vir e, se tivesse tido um pequeno
vislumbre do que iria passar não conseguiria acreditar que teria a força que
tive para superar todo sofrimento que passei. Ele esteve ao meu lado nesses
quatro anos.
Quando ele chegou o peguei pela janela do meu quarto para
que os cachorros não o vissem. O pobrezinho estava tão assustado e se enfiou rapidamente
debaixo da minha cama. Eu respeitei o seu tempo e o deixei ali, quietinho. Eu
sabia que assim que ele estivesse pronto faria contato comigo. Algumas horas
depois Zeus saiu debaixo da cama e foi até a sala, me olhou nos olhos, miou todo
carinhoso e nos amamos desde então. Naquele momento aconteceu um encontro de
almas, embora de espécies diferentes. A minha cama passou a ser dele também.
Ele sempre dormia na minha cabeça ou aconchegado no meu pescoço. Era um amor
mútuo incondicional e transcendental.
Nós compreendíamos um ao outro, sentíamos um ao outro. Uma
noite acordei com principio de ataque de pânico e meu coração batia acelerado e
a dor no peito era grande. Zeus, que estava dormindo enfiadinho no meu pescoço,
imediatamente acordou e colocou a sua pata no meu peito, no chakra cardíaco e a manteve ali, fazendo pressão até a dor e a taquicardia passarem. Então
ele retirou sua pata e voltou a dormir.
Zeus esteve ao meu lado nos piores quatro anos da minha
vida. Passei por muita dor, uma dor visceral, uma dor profunda na alma, mas
também recebi muito amor desse serzinho.
Ele passou quatro anos dentro de casa comigo. Depois de exatos quatro
anos, me mudei novamente para outra casa e foi nessa casa que a dor começou a
passar e as nuvens negras dissiparam. Não tive coragem de prendê-lo e o deixei
livre para ir e vir. A alegria dele de ter contato com o mundo exterior era tão
grande e isso me deixava feliz. Ele não parava mais em casa, mas estava sempre
por perto. Ele estava muito feliz com a sua liberdade e era muito gratificante
ver essa felicidade toda em seus enormes olhos laranjas. Gostava de passear
pelo telhado e arranhava a janela do meu quarto quando queria entrar.
Uma noite ele resolveu ficar comigo. Dormimos juntinhos
abraçadinhos como há muito tempo não fazíamos e eu soube naquele momento que
seria a última vez que dormiríamos juntos.
No dia seguinte ele ainda ficou comigo o dia todo, comeu,
dormiu até o cair da noite e então resolveu sair novamente. Já era tarde da
noite e eu estava deitada no sofá ouvindo música como de praxe quando ouvi um
barulho no telhado. Era um barulho de alguém caminhando com pisadas
leves. As pisadas continuaram e, de repente, pararam de uma forma estranha. A
impressão não era de algo ou alguém descendo o telhado, mas como se tivesse
levantado voo. Nesse momento eu soube que nunca mais o veria.
Acredito em anjos e acredito que eles se materializam de
várias formas, dependendo da situação de cada humano. A maneira que meu anjo
encontrou de ficar próximo a mim foi em forma de gato.
O meu anjo ficou fisicamente comigo por quatro anos, até eu
ficar bem e voltou para o céu.
Sempre que ouço um barulho na janela do meu quarto acho que
é ele voltando pra mim. Mas a verdade é que ele nunca me deixou.